Ronaldo Rogério de Freitas Mourão¹, em 12 de agosto de 2012.
O Laboratório de Ciências de Marte (Mars Science Laboratory) e o Curiosity é uma sonda-laboratório desenvolvida pela Nasa para analisar o solo marciano e recolher amostras que serão analisadas, após o que serão enviados à Terra os resultados. Este robô teleguiado é cinco vezes mais pesado do que os da missão Mars Exploration Rovers (Spirit e Opportunity), que desembarcaram em 2004. O MSL irá levar os instrumentos científicos mais avançados do que qualquer outra missão a Marte até hoje, incluindo a análise de amostras obtidas escavando e perfurando o solo que serão transformadas em pó. Irá também investigar a possibilidade de Marte ter vida microbiana no passado e no presente. Os Estados Unidos, Alemanha, França, Rússia e Espanha forneceram os instrumentos de bordo.
A sonda-laboratório foi
lançada pelo foguete Atlas V 541 em 26 de novembro de 2011. Após realizar o
primeiro desembarque de precisão em Marte, está prevista a sua exploração
durante pelo menos um ano marciano (668 sóis marcianos /686 dias terrestres);
sua capacidade exploradora será superior às anteriores. O custo do programa foi
estimado em 2,5 bilhões de dólares.
Na atualidade, um dos
grandes defensores dos ciclos ecológicos fechados e da exploração dos recursos
extraterrestres é o engenheiro norte-americano
Robert Zubrin, principal líder do movimento espacial norte-americano, depois do
desaparecimento de Gerard O’Neill, e um dos fundadores da Mars Society, criada
com o objetivo de promover uma conquista rápida de Marte. Para Robert Zubrin será
possível enviar astronautas para o planeta Marte nos próximos dez anos, com um
custo de 50 bilhões de dólares, despesa inferior à da Estação Espacial
Internacional.
Zubrin planejou uma
reduzida expedição a Marte com um modesto veículo espacial que utilizasse quase
somente recursos recicláveis. Uma das propostas mais avançadas é a exploração
das fontes marcianas capazes de produzir os combustíveis necessários às naves
de regresso à superfície terrestre. Imagina-se que esta técnica poderá ser
rapidamente desenvolvida, podendo servir, desde os primeiros anos do século 21,
para as próximas missões automáticas de reconhecimento da superfície do planeta
vermelho, tais como: Sojourner, em 1997; Spirit e Opportunity,
em 2004; e Curiosity, em 2012.
Zubrin não é um mero
visionário: as suas exposições vêm confirmadas por experiências realizadas em
seu laboratório do Colorado, onde testou um aparelho capaz de fabricar
propergóis a partir dos gases existentes na atmosfera marciana. Tal sistema
poderá ser colocado na superfície do planeta Marte e, deste modo, reabastecer
as sondas que deverão trazer as amostras para a Terra nos próximos anos. Uma
versão maior deverá ser utilizada mais tarde pelos veículos que transportarão
os primeiros exploradores humanos do solo de Marte à superfície terrestre. Para
reduzir os gastos durante essas viagens, será possível também fazer uma escala
de ida e volta a Fobos – um dos dois pequenos satélites de Marte – de onde
serão extraídas água e matérias orgânicas, importantes para a vida dos
eventuais astronautas assim como para a produção dos combustíveis no próprio
local.
A
terraformação de Marte.
A ideia dos novos pioneiros, dentre eles Robert Zubrin, não é
somente ir a Marte; eles desejam transformá-lo num planeta habitável e, deste
modo, duplicar a superfície de que a humanidade poderá dispor no sistema solar.
Sua concepção é transformar o planeta vermelho numa segunda Terra. Para isto,
será necessário terraformar (terraforming) o planeta, ou seja, utilizar os recursos
do próprio astro para criar uma atmosfera respirável, com rios, mares,
florestas, bosques etc. Tal operação é o mais audacioso projeto de “engenharia
civil” jamais concebido pela mente humana. Aliás, convém assinalar que a
própria atmosfera terrestre, atualmente rica em oxigênio, não o foi no início.
A nossa atmosfera foi transformada pela ação de bactérias primitivas nas épocas
iniciais da sua história. A proposta dos defensores da terraformação é a de introduzir estes organismos
simples capazes de produzir uma biosfera na superfície de Marte ou de outros
quaisquer corpos celestes.
Na realidade, o planeta vermelho tem todas as condições para que
a terraformação seja possível. Por um lado, os estudos científicos sugerem que
existem indícios, segundo os quais o subsolo do planeta vermelho contém uma
enorme quantidade de gelo, no interior de seu solo congelado, como o permafrost siberiano. Por outro lado, se o gás
carbônico congelado das suas calotas polares fosse liberado na atmosfera
marciana, ocorreria um efeito estufa e, em consequência, um reaquecimento do
clima do planeta. Uma vez iniciado este processo de aquecimento, a temperatura
mais elevada aceleraria o degelo das calotas polares e do permafrost subterrâneo. A partir desse momento, o
planeta vermelho teria um clima mais ameno, em sua superfície surgiriam rios e
lagos, assim como uma vegetação que poderia ser levada da Terra.
Para
dar início a este processo, Robert Zubrin propôs que se colocassem ao redor do planeta
grandes espelhos capazes de focalizar a luz solar sobre
os polos marcianos. Outra solução seria cobrir as calotas polares com uma camada
de poeira que absorvesse o calor solar, com o objetivo de acelerar o degelo. Os
menos otimistas questionam que seriam necessários séculos para que a atmosfera
de Marte se tornasse mais densa e mais quente, para que a água começasse a
fluir em sua superfície. No entanto, convém notar que não seria preciso atingir
os últimos estágios de terraformação para que se iniciasse o seu povoamento.
A
terraformação de Marte na ficção científica.
A
ideia da terraformação do planeta vermelho em um astro habitável encontra-se no
filme de ficção científica Vingador do futuro (Total recall, EUA, 1990), de Paul Verhoeven, uma
adaptação do romance de Philip K. Dick, no qual o planeta não ocupa um papel
muito importante. Ao contrário, no filme ele é apenas o cenário central da
trama que envolve Douglas Quaid, seu herói principal, representado pelo ator
Arnold Schwarzenegger que, na cena final, deveria morrer na superfície desolada
de Marte, quando é salvo pela brutal erupção de uma atmosfera respirável: Marte
se torna habitável em alguns segundos. Na realidade, séculos e milhares de anos
seriam necessários. Mas, na imaginação da ficção-científica, tudo é
possível.
Mais cautelosos são os três livros de ficção científica escritos
por Kim Stanley Robinson: Marte - o vermelho, Marte - o verde e Marte - o azul; todos
eles inspirados nas ideias de Robert Zubrin. Com efeito, os seus títulos
exprimem as diferentes etapas da terraformação de Marte e do seu povoamento de
Marte pelo homem.
Outro notável filme a utilizar as ideias de Robert Zubrin é
o Red planet, de Anthony Hoffman (EUA, 2000), no
qual uma equipe de astronautas é enviada ao planeta vermelho para investigar o
que não deu certo no projeto de terraformação de Marte, descobrindo que existia
uma atmosfera respirável e um tipo de inseto vivo gerado pelas algas lançadas
no programa de terraformação do planeta. Tais insetos, além de terem destruído
a base lançada anteriormente, constituíam uma ameaça aos astronautas.
¹Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, astrônomo, é também
escritor. Escreveu mais de 90 livros, entre outros, 'Marte – Da imaginação à
realidade'. - [http://www.ronaldomourao.com].
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