O Ártico se transformando

Pesquisadores recuperando amarração ao norte de Severnaya Zemlya, um arquipélago russo. [Crédito foto, Ilona Goszczko].

Partes do oceano Ártico estão se transformando no oceano Atlântico
O Ártico está passando por uma transição surpreendentemente rápida, à medida que a mudança climática atinge a região.

Uma nova pesquisa lança luz sobre as últimas mudanças em andamento, mostrando que partes do Oceano Ártico estão se tornando mais parecidas com o Atlântico. Águas quentes estão fluindo para o oceano ao norte da Escandinávia e da Rússia, alterando a produtividade e a química do oceano. Isso faz com que o gelo marinho retroceda dando início a um circulo de realimentação que pode tornar o gelo do verão uma coisa do passado.

"2015 foi um ano realmente anômalo quando tivemos problemas para encontrar um fluxo de gelo adequado para lançar nossas bóias à deriva", disse Igor Polyakov, um oceanógrafo da Universidade do Alasca, que liderou o novo estudo. “Nunca houve  isso no passado, e tornou-se uma motivação para a nossa análise: por que o gelo em 2015 apresentava-se tão fraco? O que estaria impulsionando essa mudança enorme? "

Os resultados, publicados na Science, mostram que, embora o aquecimento do ar tenha um papel a desempenhar, os processos estão se desenvolvendo no próprio oceano que estão alterando a região.

Essas mudanças irão impactar as pessoas, plantas e animais que circundam o Ártico. Poderiam também criar mais tensão geopolítica à medida que os recursos previamente bloqueados sob o gelo se tornam disponíveis e as faixas de navegação se abrem.

No leste do Oceano Ártico, a mudança está acontecendo em camadas do oceano. Há uma tampa de água fria e menos salgada que cobre a porção oriental do Oceano Ártico. Por baixo fica uma piscina de água quente e salgada do Atlântico que até recentemente não foi capaz de encontrar uma brecha para a superfície. Essa estratificação de camadas mantinha o gelo relativamente seguro de seu torniquete quente.

O oceano tornou-se gradualmente menos estratificado desde os anos 70. Usando dados de bóias e satélites, Polyakov e seus colegas de pesquisa encontraram uma mudança mais marcante na última década e meia. Desde 2002, a diferença na temperatura da água entre as camadas caiu cerca de -16,67 ºC.

No inverno de 2013-2015, a camada que separava as águas profundas e as águas superficiais desapareceu completamente em alguns locais, permitindo que as águas quentes do Atlântico alcançassem a superfície e dilacerassem ainda mais o gelo do mar. Ao mesmo tempo, o ar quente reduziu ainda mais esta camada de gelo do mar, o que permitiu a mistura das camadas oceânicas.

O resultado é um circulo de retroalimentação que está transformando essencialmente um terço da parte leste do Oceano Ártico em algo parecido com o Oceano Atlântico.

"As mudanças rápidas no Oceano Ártico, que permitem que mais calor do interior do oceano chegue ao fundo do gelo marinho, estão tornando-o mais sensível às mudanças climáticas", disse Polyakov. "Este é um grande passo em direção a um Ártico com cobertura sazonal de gelo marinho".

As mudanças já são evidentes na região, que ficou grande parte sem gelo durante o verão desde 2011. O inverno que estabeleceu um recorde de baixa de gelo por três anos consecutivos, foi em grande parte impulsionado pela falta de gelo no leste do Ártico.

Polyakov disse que logo viu as rápidas mudanças no gelo. Quando puseram pela primeira vez as bóias no Ártico Oriental em 2002, os pesquisadores tiveram que chegar aos locais em navios quebra-gelo pesados.

"Agora podemos alcançá-los usando um navio de classe de gelo", disse ele. Navios de classe de gelo não são necessariamente tão reforçados como os quebra-gelos.

Outras pesquisas publicadas mostram que o gelo do mar enfraquecido está permitindo que o fitoplâncton floresça em toda a região.

Fitoplâncton são plantas minúsculas que necessitam a luz solar para florescer. O gelo marinho tem sido espesso o suficiente para evitar que isso acontecesse até muito recentemente. As novas descobertas mostram que, na última década, até 30% do Ártico foi preparado para florescer no verão.

"Os resultados mostram que o Ártico se tornou um lugar muito diferente do que tem sido no passado", disse Christopher Hovart, um oceanógrafo de Harvard, que liderou o estudo do plâncton. "Os caminhos da água estão mudando, a ecologia está mudando, tudo impulsionado pelo declínio da camada de gelo do mar."

Leia a matéria na integra em Climate Central. 

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